Diversas crianças e adolescentes já foram muito negligenciados na saúde mental e emocional mesmo antes da pandemia, mas sabemos que isso cresceu ainda mais devido a tudo que foram expostos. Por isso, desde o início da pandemia da Covid-19 em 2020, várias renomadas instituições têm recolhido dados e realizado novos estudos sobre a saúde mental das crianças e adolescentes. Porém, os danos ainda são incalculáveis, uma vez que a pandemia ainda não terminou e o déficit emocional que já existia anteriormente foi amplamente multiplicado por todos esses anos.
As pesquisas apresentadas pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) entre setembro de 2021 e janeiro de 2022, mostram que crianças e adolescentes podem sentir o impacto da Covid-19 na saúde mental por muitos anos ainda. Estudiosos da Neurociência salientam que crianças entre 0 e 7 anos estão absorvendo tudo ao seu redor e “gravando” em seu inconsciente tais memórias, de forma permanente. Por isso o impacto se torna tão difícil de calcular. Da mesma forma, as crianças de 7 a 12 anos, que registram em seu subconsciente as informações, mas já concentram as mesmas em seu consciente, mostram um sofrimento imediato.
De acordo com a instituição, estimativas mostram que pelo menos 1 em cada 7 crianças e adolescentes com idade entre 10 e 19 anos terá algum transtorno mental diagnosticado.
As necessárias medidas de isolamento social adotadas, ao longo de todos esses meses, foram essenciais. Por outro lado, forçaram um distanciamento do convívio familiar e social de maneira inesperada. Com essas restrições, crianças e adolescentes passaram muito tempo sem interações e brincadeiras – elementos chave do desenvolvimento na infância. Tudo isso gerou sofrimento e angústia e, consequentemente, transtornos de saúde mental, como depressão e ansiedade.
Houve também um enorme prejuízo nas áreas do ensino e da socialização e, por isso, nós, como responsáveis e integrantes da comunidade escolar, devemos sempre estar atentos e observar sinais e comportamentos suspeitos, como tristeza acentuada, irritabilidade, agressividade, alterações de humor, queda no rendimento escolar, mudanças nas rotinas de sono e de apetite e o envolvimento em brigas constantes. Devemos fazer uso de uma escuta efetiva e estimular a expressão de sentimentos, validando essas dores expostas – uma vez que são verdadeiras, mas as crianças têm dificuldades em expor e expressar tais emoções.
Todos os casos reconhecidos devem ser encaminhados para profissionais da área de saúde mental, para que os devidos atendimentos sejam prestados em conjunto com o envolvimento da criança/adolescente, da família, da escola e dos serviços de saúde. É importante ressaltar que tanto os atendimentos clínicos, como os psicológicos, poderão ser realizados de forma presencial ou virtual. E que as aulas de socioemocional, previstas na BNCC desde 2018, devem ser implantadas imediatamente nas escolas para amenizar esses impactos e auxiliar nos diagnósticos e superação de seus efeitos.
Essas medidas são válidas para redes privadas ou públicas, especialmente no Estado de são Paulo, onde foi aprovada a Lei 17.413/21, e, com isso, já está em funcionamento o Programa de Suporte Emocional para Crianças e Adolescentes em todo o Estado. Os casos reconhecidos devem ser encaminhados à Secretaria de Saúde para que os atendimentos sejam prestados e realizados em equipamentos que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), de forma presencial ou virtual, a critério da Secretaria de Saúde.
Texto escrito por: Priscila Citty – Pedagoga e especializada em Inteligência Emocional e professora de Educação Socioemocional da Green Book.
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